Português suave

Estou sentade de pernas cruzadas lá fora na mesa onde costumámos tomar café. Está a ficar escuro. Todos os dias te trago ao colo é uma verdade que todos partilhamos e na qual cremos apesar de fisicamente já não parares por estes lados ainda aqui permaneces. Acendes mais um cigarro e eu não tiro os olhos de ti. Sei descrever cada passo da tua alma, cada sopro das tuas mãos, cada voz do teu rosto e a medida do tempo parece não existir, pelo menos lá fora na mesa de café. Tudo o que julgava ter de te dizer, tudo o julgava querer dizer-te sairam daqui. Tudo o que julgava saber falar, todo o dizer do meu palavrear subiram ao irreal e deixaram-se ficar enquanto lá fora, na mesa de café acendes mais um cigarro e eu não tiro os olhos de ti. Não é dita nenhuma palavra, não é acentuada a forma de pronunciar e de facto lá fora na mesa de café o meu português não anda nada suave enquanto por outro lado tu disfrutas de mais um cigarro e é ai que eu penso que já está na hora de eu acender o meu.

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